O Napster estava certo
- Leandro Abreu

- 26 de abr. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 21 de abr.
Desde sempre os números da indústria da música são medidos em quantidade de unidades vendidas. Não interessa a mídia (disco, CD ou cliques), o comportamento varejista da indústria é persistente.

Na virada do século, quando o Napster apareceu apoiado pela tecnologia, foi taxado como o responsável por incentivar a pirataria, quando na verdade ele mostrou para todos que compreender o comportamento do fã era necessário, e que pesquisas de mercado e marketing de massa, essas ferramentas usadas no passado, já não eram úteis na nova indústria que nascia ali.
O fato é que o Napster tirou o gênio da garrafa e não dá para mandá-lo de volta. O mercado tinha que se reinventar e foi exatamente isso que aconteceu. Selos e artistas independentes ganharam força como nunca. As grandes gravadoras compraram as menores e foram se livrando de pedaços da cadeia que pesavam nas linhas custo, como os estúdios por exemplo. Adivinha o pedaço do qual eles não abriram mão? A distribuição.
O fato é que houve um investimento para montar a cadeia de parceiros e distribuidores e não fazia sentido desmontar essa parte do business, pelo menos naquele momento. Reflexo do comportamento varejista persistente que pensa na venda de peças de plástico ao invés de vender uma mensagem que toca o coração e mente das pessoas.
Entre a onda de processos que o Napster sofreu e o aparecimento das plataformas de streaming que "legalizou" um novo jeito de consumir música, todos foram aprendendo e construindo uma nova indústria.
Sempre vale a pena lembrarmos dos ensinamentos da Amanda Palmer, a artista independente que levou o relacionamento com os fãs para outro nível e mostrou que sim, é possível deixar seus fãs ouvirem sua música de graça e mesmo assim ter um bom rendimento.
Desde quando assisti sua palestra no TED um número não me saiu da cabeça. Ela disse que assinou com um selo, lançou o primeiro disco, vendeu 25.000 discos e, pela venda ter sido considerado um fracasso, ela perdeu o contrato. Depois da sua campanha de crowdfunding ela vendeu os mesmos 25.000 discos e ganhou US$ 1.200.000,00.
Como isso aconteceu?
Ela se concentrou em seu business: os fãs!
Ela respondia todas as mensagens dos fãs, dizia coisas direto ao coração dessas pessoas, sua música e sua mensagem levavam algo a mais para aqueles que estavam realmente conectados com ela e, em troca, os fãs compravam seus discos nos shows, camisetas e acabaram até financiando a gravação do seu próximo disco. Ela estabeleceu uma relação verdadeira com seus fãs e o que foi chamado de "pirataria" era só uma ferramenta de conexão e divulgação do seu trabalho.
Muitas pessoas apostam em crowdfunding e não conseguem o mesmo êxito que Amanda Palmer teve mas, notem a diferença. É preciso ter uma base de fãs antes da campanha e não montar a base de fãs para a campanha. As plataformas existentes não atrairão novos investidores para seu projeto, elas apenas são um veículo para que quem já estabeleceu uma relação com o artista possa participar do projeto, é uma troca direta entre fã e artista.
Algoritmos e métricas viraram a bússola de um mundo digital plataformizado, mas para o artista vencer no mercado da música ele tem que ser analógico, tem que se concentrar nos fãs e ter uma relação de troca, como o poeta escreveu, "o artista vai onde o povo está". Fazendo isso, não tem erro, o algoritmo e as métricas vão traduzir o resultado de um bom trabalho feito. É o analógico e o digital andando lado a lado.
Pois é, o Napster estava certo, o comportamento de consumo tinha mudado e a tecnologia deveria ser usada em prol dos artistas e fãs mesmo que isso custasse uma mudança de postura das grandes gravadoras, é o que o outro poeta chamaria de ´mapas do acaso´.
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